Infelizmente,
os seres vivos do mar que se multiplicavam no rio da Costa, com a destruição dos
manguezais e descaracterização desse rio de águas puras e límpidas, que se
tornou um valão sujo e fétido idealizado pelo homem, saíram perdendo e perdeu o
mar, o parceiro dessa cadeia de vida marinha.
Em
seu lugar, desprezível para o mar, há um rio morto, um canal. Enquanto rio, no
seu leito serpenteavam suas águas por mais de quatro quilômetros, desde o
nascedouro até a foz no lugar denominado Barrinha, entre o Morro do Moreno, onde
mais se aconchegava, e o do Convento da Penha.
Seu
Nascedouro
O
rio da Costa nascia no Poço do Apicum, às margens da estrada de Vila Velha à
Barra do Jucu, hoje avenida Professora Francelina Carneiro Setúbal. Passando
nessa via sob um pontilhão de madeira, adentrava os terrenos dos Setúbal,
encoberto por ingazeiras, almesqueiras, arcos-de–barris e outras vegetações nem
sempre contínuas, prosseguia na sua caminhada pra, meio quilômetro à frente,
depois de curvar suavemente para o lado norte ao deixar o sentido de oeste para
leste, numa linha reta arestada, entrava nos domínios dos herdeiros de Emília
Tesch Mascarenhas, passando ao largo da lendária Pedra da Onça.
A
Pedra da Onça
Dando-se
asas à imaginação e retrocedendo-se no tempo é de se pensar que naquela região
predominava, intocável, uma porção da Mata Atlântica. Nessa floresta virgem os
felinos deviam demarcar o seu território. Isso acontecido, por certo, o topo
dessa pedra serviria de ponto a alguma onça pintada após dias chuvosos ou depois
de seu repasto e nessas ocasiões especiais devia relaxar ao sol ou refestelar-se
de bucho cheio.
A
partir do largo da Pedra da Onça o rio ia-se alargando com mais de quinze metros
de boca. A partir daí recebia a penetração, com mais intensidade, da água
salgada, só passando esta para doce nas grandes chuvadas com enchentes, pelo
transbordamento do rio Jucu, pelo lado norte, doze quilômetros acima. Nessas
enchentes as águas permaneciam doces até a sua embocadura e ainda mar a
dentro.
Sítio
do Batalha
Continuando
no seu deslocamento, o rio da Costa chegava ao sítio do Batalha. Nesse trecho
definido pela aparição da água do mar, os mangues começavam a vicejar e os
sinais de vida nova eram evidenciados. Os moluscos, como berbigões, canivetes,
amêijoas e sururus do mangue, medravam no seu leito e nas suas margens. Da mesma
forma, as ostras nos troncos e nas raízes aéreas dos mangues.
Com
esses sinais de vida em ebulição, o pequeno rio, tão importante que fora para
Vila Velha, encostava-se pelo lado sul no morro do Batalha.
Variadas
Espécies
Caranguejos,
aratus, sapateiros, espera-marés, dorminhocos, sabaquabas, goiamuns e tantos
outros. No seu leito, siris se arrastavam pelo fundo, despachando-se rápidos se
notados ou ainda enterrando-se na areia ou lama ao seu alcance, num escape que
lhes parecia seguro. O camarão do lameirão, a partir desse pedaço, já tinha o
seu habitat. Os peixes – robalos, tainhas, caratingas e outros – já dividiam
também esse pedaço.
Os
manguezais se alastravam e ocupavam ambas as margens do rio, que ficavam
cobertas nas cheias das marés, nas suas bases e nas ramagens mais baixas, só
terminando essa densa vegetação, nas proximidades de Barrinha, às vezes
interrompida numa intermitência diminuta, quando os seus lados estavam tomados
por pedras, pedreiras e pedaços de poços dos quintais da rua Luíza Grinalda, com
os quais fazia fundos. Esses manguezais, de um verde muito vivo, formavam no seu
conjunto um matizado com as folhagens escuras e claras, ora arbustos, ora
árvores. Suas copas serviam de nidificação a muitas espécies de aves, inclusive
papagaios, que ocupavam os ocos dos troncos dos mangues vermelhos, isso em
épocas mais remotas.
Abaixo,
no solo, além dos inúmeros crustáceos, o rei dos manguezais, sua majestade o
caranguejo, surgia abundantemente, aos milhares, dos respectivos buracos feitos
na lama, e os mais desconfiados na lama e no emaranhado das raízes, dificultando
a cata ou a caça dos seus predadores naturais, nesse rol o homem, sem dúvida, o
mais implacável. Suas cores, as mais variadas, suplantavam as de qualquer outro
crustáceo. De casco escuro, quase preto; de casco amarronzado, forte ou mais
claro; de casco amarelo, verde ou azul, com suas nuanças acentuadas ou suaves,
desse jeito existiam os caranguejos do rio da Costa, não se levando em conta o
seu sabor inigualável e tamanho avantajado para os de maior porte, diferentes
nas suas cores, inconfundíveis na sua aparência ou formato. Como também o são no
alimento que consumiam e consomem em outras paragens – a folha do mangue. A
natureza, por essa preferência, desenhou-lhe na extensão de cada lado do seu
casco, na ponta e na longitudinal, a folha desse vegetal que o alimenta e marca
como um longitudinal, a folha desse vegetal que o alimenta e marca como um
estigma da sua existência. Nós, quando menino, examinando de perto esse
animalzinho, ficamos fascinados com os desígnios da natureza, descobrindo essa
impressão. Não satisfeito, buscamos nos certificar ao longo dos anos, sempre que
a oportunidade se nos ofereceu para exibir a todos quantos os catavam e os
consumiam, buscando dessas pessoas a constatação desse desenho e delas recebendo
plena afirmação. Por certo, para a ciência e os estudiosos da matéria isso não é
uma novidade, falta apenas quem dê uma explicação científica.
Mangue
Vermelho
Além
da extração indiscriminada das madeiras, havia uma outra mais letal para o
mangue, e que também era posta em prática pelos pescadores: o mangue vermelho,
cuja casca fornece um corante apropriado para o tingimento de redes, tresmalhos,
tarrafas, puçás, arpoeiras etc., sendo empregada também nos curtumes para
tingimento e conservação do couro. Nessa extração, tronco e hastes bem formados
eram cortados no cerne, e a árvore, sem a circulação da seiva, acabava
morrendo.
É
de se perguntar: para extrair a casca haveria necessidade de mutilar por
completo o mangue? Sim e não. Sim, por que a tinta extraída da casca após o seu
cozimento e aplicada aos aparelhos de pesca deixava-os mais resistentes,
preservando-os por mais tempo. Não, porque essa mutilação podia ser evitada,
bastando que no corte não se roletasse todo o tronco ou haste. Mesmo
prejudicada, a circulação da seiva seria ainda suficiente para manter o mangue
vivo, encarregando-se o tempo de cicatrizar e recompor as partes
extraídas.
O
homem, que se diz civilizado, não atentou para este aspecto. Como em outras
oportunidades, ao tratar com o meio ambiente o que lhe interessa é o momento
presente, deixando as conseqüências para, no futuro, outras gerações cuidarem,
como se os seus descendentes não viessem a sentir na pele tais atentados contra
a natureza. O índio tido como inculto, soube preservar com parcimônia o meio
ambiente, mesmo fazendo uso de seus produtos.
Para
ilustrar, citemos o exemplo de uma tribo indígena da Amazônia, que utiliza a
casca de determinada árvore para construir suas canoas de pesca, as pirogas, com
as quais singram rios e lagos. Para esse fim, do tronco da árvore, em pé, corta
cuidadosamente, no sentido longitudinal, metade da casca sem ferir o cerne. Com
essa técnica apurada, transmitida de geração a geração, proporciona-se à árvore
sacrificada a possibilidade de recuperação, adquirindo ela nova casca,
podendo-se mesmo fazer uma segunda extração do mesmo tronco, nos moldes da
primeira.
Procedimento
idêntico, por certo, poderia ser adotado no caso do mangue vermelho. Se a mesma
técnica usada pelo índio fosse aqui desenvolvida, esta planta teria sido
preservada por mais tempo, embora o homem, predador por excelência, pudesse
destruí-la de outras formas.
Matadouro
Municipal
Continuando
o seu percurso, o rio da Costa, ainda vivo, seguia até as proximidades do
matadouro municipal, curvando-se discretamente no sentido norte para leste até
encontrar à sua margem esquerda uma pedra de tamanho suficiente para que sobre
ela se instalasse o referido matadouro. Ele era fiscalizado pela saúde pública,
principalmente pela municipal, que acompanhava as condições do animal em pé e
depois de abatido, com as vísceras expostas, sendo evidente que, assim como
outros abatedouros existentes no que seria hoje a Grande Vitória, suas condições
de funcionamento estavam longe do ideal. José Pitanga, saudoso fiscal e técnico
de veterinária, por muito tempo fez esse trabalho como funcionário da
Prefeitura.
O
matadouro permaneceu ali instalado e funcionando por longos anos, sendo
desativado somente no final da década de 50, para alívio geral da vizinhança e
dos que habitavam o centro de Vila Velha. Os vizinhos se viram assim livres da
fedentina espalhada pelos ventos e dos urubus que ficavam empoleirados aos
bandos sobre os telhados das casas depois de se banquetearem com as sobras das
carnes e pelancas jogadas ao tempo. Essas aves, além de fazerem arruaça,
quebravam telhas com o seu peso, o que representava prejuízo para os donos das
moradias próximas, que em épocas de chuva ficavam expostas a goteiras se não se
fizessem a tempo os reparos necessários.
No
que se refere ao centro da cidade, havia o incômodo da condução do gado pelo
meio de ruas e avenidas em direção ao matadouro para o abate. Preocupava o
tropel das manadas e dos cavalões com vaqueiros montados aos gritos, aboiando as
rezes até o destino final, assim como a presença de algum animal bravio que se
desgarrava do bando, o que era uma constante. Conduzido o gado até o seu
destino, o vaqueiro voltava para recuperar a rês desgarrada, adotando nessa
tarefa sempre a mesma estratégia: passavam-se dois laços de couro cru ao chifre
da rês, separavam-se as orelhas, sendo então segurada por dois cavaleiros
encilhados no arreio das suas montarias, um puxando na frente e outro
sustentando atrás, forçando-a a seguir rumo ao matadouro.
Nessa operação muitas cercas e muros eram danificados e refeitos pelo marchante explorador do abatedouro. O mais importante e bem conceituado dentre eles, em Vila Velha, era o Senhor Rodolfo Valdetaro, detentor de uma grande e bem educada prole.
Nessa operação muitas cercas e muros eram danificados e refeitos pelo marchante explorador do abatedouro. O mais importante e bem conceituado dentre eles, em Vila Velha, era o Senhor Rodolfo Valdetaro, detentor de uma grande e bem educada prole.
Sobre
o matadouro, ora voando baixo, ora ganhando altura além do Convento da Penha, em
cuja mata encontravam refúgio, bandos numerosos de urubus viviam em constantes
revoadas. Era tão comum o espetáculo que os moradores costumavam comentar uns
com os outros, principalmente quando o encontro deles no ar era mais intenso e
agitado, que a “aviação” do seu Rodolfo estava pronta para entrar em ação. Nessa
brincadeira havia um velado protesto contra a permanência do matadouro contíguo
ao centro de Vila Velha, mas ninguém cuidava de providenciar a sua
transferência. Só depois, muito depois de o seu Rodolfo ter passado o matadouro
a terceiros e estes a uma sucessão de outros marchantes, para os quais
transferia-se compulsoriamente a tal “aviação”, programou-se a retirada desse
abatedouro.
Encontro
do Rio com o Mar
Ao
se falar do rio da Costa, mais uma vez involuntariamente o fluir de suas águas
rumo ao mar foi interrompido para que fossem narrados acontecimentos
relacionados com ele. Da pedra do matadouro municipal o rio, com o seu curso
voltado para leste, abeirava o sopé da pedreira do Convento da Penha, passando o
seu leito antes disso por mais um perau, e seguia forte nessa rota,para logo
adiante curvar-se até alcançar, já em sentido norte, o morro do Moreno. O rio
encontrava ali um enorme lajedo de onde algumas pessoas pescavam atirando a
linha nas suas águas fundas e empedradas, sinal de bom pesqueiro.
Esse
trecho, localizado entre a pedreira do Convento da Penha e o morro do Moreno,
era o mais piscoso e costumava ser adotado por quem entendia do assunto,
principalmente à noite. Os robalos e os robalões, na escuridão e com a maré
cheia, espoucavam na mansidão das águas, em áreas abertas ou em meio aos
mangues, à caça de tainhas, suas presas preferidas. A escuridão da noite por
aquelas bandas era fantasmagórica. O silêncio só era quebrado pelo puxar do remo
junto à canoa ou pelo estardalhaço dos peixes maiores no encalço das suas presas
menores. O canoeiro, com sua lanterna acesa na bancada da popa, de olhos fixos
sobre as águas e atento com a sua tarrafa armada, esperava o momento azado para
lançá-la sobre o alvo. Quando este lhe parecia impróprio, baixava a guarda,
apanhava uma pedra, das muitas que carregava no fundo da canoa, e atirava
convenientemente na água. Se os peixes estivessem nas proximidades da área do
impacto, convergiam instintivamente para aquele ponto na presunção, segundo os
entendidos, de tratar-se de outros da sua espécie ou de uma presa em fuga. Nesse
local, com o tempo calculado, o pescador arremessava a sua tarrafa. Acreditando
nesse artifício, o pescador, noite a dentro, com ou sem sucesso, ia tarrafando
rio abaixo e rio acima até dar por concluída a sua pescaria.
O
rio da Costa, nas suas margens lamacentas, com os seus manguezais e o seu leito
piscoso porque não poluído, deu por séculos e anos a fio, à comunidade de Vila
Velha, o direito de nele se prover. Pescados, crustáceos, mariscos e o próprio
mangue sustentaram famílias incontáveis que não tinham trabalho definido.
Enquanto este rio viveu morador algum de Vila Velha, desprovido de recursos,
passou privações, a menos que fosse inapto ou inválido para quaisquer das
atividades por ele oferecidas.
***
O
rio está prestes a concluir a sua caminhada com destino ao mar. Ao passar pelo
lajedo dos pescadores no morro do Moreno, com o qual não mais perdia contato até
chegar a sua embocadura, fazia uma ligeira ramificação no sentido oeste,
atingindo as faldas do morro do Convento, onde envolvia uma pedra, deixando-a
quase toda submersa com a cheia da maré. Estabelecia-se ali um pequeno remanso e
um bom pesqueiro, dependendo da influência da lua, o qual era explorado com
sucesso por quem conhecia essa peculiaridade.
Criado esse remanso, o rio retomava o seu curso de origem, não mais se apartando do Morro do Moreno, fazendo, a partir daí, o percurso sobre areia por onde, finalmente, alcançava a sua foz no mar, entre uma pedra e a praia do 3º BC.
Criado esse remanso, o rio retomava o seu curso de origem, não mais se apartando do Morro do Moreno, fazendo, a partir daí, o percurso sobre areia por onde, finalmente, alcançava a sua foz no mar, entre uma pedra e a praia do 3º BC.
Esta
última caminhada do rio da Costa, conhecida como Barrinha, era bastante
aprazível. A maré baixa deixava à mostra uma espaçosa praia de areias claras,
enquanto o rio escorria pelo lado do morro do Moreno com águas rasas. Nesse
local, escavando-a a areia encontravam-se recolhidos mexilhões, canivetes,
amêijoas e berbigões.
Todas essas atividades poderiam constituir apenas como um intróito de espera do reponte da maré para a pesca dos siris que, com a entrada da água salgada mais apurada do mar, apareciam em abundância à procura de alimento. Eles não só vinham dos manguezais próximos, como também trazidos pela maré quando esta subia. Nessa ponto o ri aos poucos ia interrompendo a caminhada para a embocadura e era a hora certa para que linhas com iscas para siri, amarradas em pontas de varas que ficaram espetadas na areia, fossem lançadas à água. A partir daí iniciava-a a pescaria propriamente dita. As puçás entravam em ação com as linhas retesando-se a todo momento sinalizando a presença dos crustáceos caindo no engodo que lhes fora preparado. O jereré, outro tipo de armadilha usada, também entrava em ação. Chegara o momento do corre-corre. Os siris nas puçás ou nos jererés eram transferidos para o depósito. A azáfama era desmedida para se dar conta da tarefa. Ás vezes de uma única puxada de linha recolhiam-se na puçá de três a quatro siris, acontecendo o mesmo com os jererés.
Não mais do que uma hora durava a pescaria. Nesse espaço de tempo, a água do mar empurrando o rio em sentido contrário à sua foz, com a forte correnteza, passava a inundar toda a praia da Barrinha. As linhas com as suas iscas não mais ficavam no fundo, embora envolvidas em pedras, e flutuavam ao sabor da velocidade da enchente. A mesma coisa acontecia com os jererés, que não mais se assentavam no fundo da água. Nada mais se tendo a fazer, encerrava-se a pescaria que sempre era feita com muito sucesso, sendo capturadas dúzias e mais dúzias de siris de diversos tamanhos e espécies.
Todas essas atividades poderiam constituir apenas como um intróito de espera do reponte da maré para a pesca dos siris que, com a entrada da água salgada mais apurada do mar, apareciam em abundância à procura de alimento. Eles não só vinham dos manguezais próximos, como também trazidos pela maré quando esta subia. Nessa ponto o ri aos poucos ia interrompendo a caminhada para a embocadura e era a hora certa para que linhas com iscas para siri, amarradas em pontas de varas que ficaram espetadas na areia, fossem lançadas à água. A partir daí iniciava-a a pescaria propriamente dita. As puçás entravam em ação com as linhas retesando-se a todo momento sinalizando a presença dos crustáceos caindo no engodo que lhes fora preparado. O jereré, outro tipo de armadilha usada, também entrava em ação. Chegara o momento do corre-corre. Os siris nas puçás ou nos jererés eram transferidos para o depósito. A azáfama era desmedida para se dar conta da tarefa. Ás vezes de uma única puxada de linha recolhiam-se na puçá de três a quatro siris, acontecendo o mesmo com os jererés.
Não mais do que uma hora durava a pescaria. Nesse espaço de tempo, a água do mar empurrando o rio em sentido contrário à sua foz, com a forte correnteza, passava a inundar toda a praia da Barrinha. As linhas com as suas iscas não mais ficavam no fundo, embora envolvidas em pedras, e flutuavam ao sabor da velocidade da enchente. A mesma coisa acontecia com os jererés, que não mais se assentavam no fundo da água. Nada mais se tendo a fazer, encerrava-se a pescaria que sempre era feita com muito sucesso, sendo capturadas dúzias e mais dúzias de siris de diversos tamanhos e espécies.
Com
o término da pescaria e do fluir do rio da Costa até o mar, deixamos registradas
algumas das muitas facetas por ele proporcionadas desde a sua nascente, no Poço
do Apicum, até a sua embocadura, na Barrinha.
A
ponte Nova
Essa
ponte era, à noite, um local ermo e escuro freqüentado por casais que iam além
dos beijos e abraços ou mesmo por aqueles que nisso ficavam.
A
ponte era feita de cimento armado e protegida em ambas as laterais por uma
mureta de desenhos geométricos vazados e altura que permitia a uma pessoa de
porte normal debruçar-se. Na sua base, pelos dois lados e ao rés do chão, havia
uma calçada para pedestres. Essa ponte era então a única via de acesso à praia
da Costa. Chamavam-na de ponte Nova pelo fato de ter existido primitivamente uma
outra que também levava à praia da Costa pela rua 15 de Novembro e que era
conhecida como ponte Velha, abandonada e destruída pelo tempo depois da
construção da mais moderna. Por aquela ponte chegava-se ao outro lado do rio
numa estrada estreita que mais parecia um caminho.
À
praia da Costa da época, ainda não explorada para banhos de mar, iam,
atravessando a ponte, proprietários das glebas de terra da região, faroleiros do
farol Santa Luzia ou sinaleiros do morro do Moreno, quando não o faziam pelo rio
ou pelo mar. Essa ponte era também utilizada pelos moradores da cidade em
incursões às cercanias para fazer lenha e na cata de frutas silvestres que eram
abundantes na praia da Costa, incluindo a pitanga, o perinho, a murtinha, a
maçaranduba, o mupê, o araçá, a goiaba, a costeira, a araçaúna, o caju e outras
mais.
Com o advento da ponte Nova, construiu-se a primeira estrada para a praia da Costa e desta para a da Sereia. Para se chegar à praia de Itapoá, após essa estrada, seguia-se pelo cômodo da praia.
Com o advento da ponte Nova, construiu-se a primeira estrada para a praia da Costa e desta para a da Sereia. Para se chegar à praia de Itapoá, após essa estrada, seguia-se pelo cômodo da praia.
A
título de curiosidade, o primeiro morador da praia da Costa, no litoral
propriamente dito, chamava-se João Rita. Ele residia numa choupana de sapé, bem
junto à praia, um pouco antes de atingir a curva da Sereia. O velho João Rita
vivia num isolamento absoluto, e por isso chamavam-no de “ermitão da Costa”.
Quem chegava até a praia raramente deixava de lhe fazer uma visita, levando-lhe
algumas provisões. Bem falante e amistoso, João Rita sabia onde estavam os
melhores pesqueiros, como também o local de fruteiras nativas em
produção.
Fonte: Livro
ECOS DE VILA VELHA, 2001-Pág.
128/140
Autor: José Anchieta de Setúbal
Compilação: Walter de Aguiar Filho
www.morrodomoreno.com.br
Autor: José Anchieta de Setúbal
Compilação: Walter de Aguiar Filho
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