
Os alpinistas saem dali para um rappel de 300 metros até o "colo" da Freira. Para fazer passeios é só agendar através dos telefones (28) 5511-0443 ou 9884-2020.
O local deu origem a uma bonita lenda, que vale a pena conhecer:
Conta a lenda que há muitos anos atrás um padre apaixonou-se por uma freira. Como o amor entre eles era impossível, foram transformados em pedra para que esse amor fosse eternizado.
Mas, há discrepâncias sobre a lenda. Confira no texto de José Augusto Carvalho:
Em 1938, no livro de edição particular, Escada da vida, o poeta cachoeirense Benjamin Silva inseriu um soneto em que conta a versão mais difundida da lenda.
"Na atitude piedosa de quem reza, / E como que num hábito embuçado, / Pôs naquele recanto a natureza / A figura de um frade recurvado. /§/ E sob um negro manto de tristeza / Vê-se uma freira tímida a seu lado, / Que vive ali rezando, com certeza, / Uma oração de amor e de pecado... /§/ Diz a lenda - uma lenda que espalharam - / Que aqui, dentre os antigos habitantes, / Houve um frade e uma freira que se amaram... /§/ Mas que Deus os perdoou lá do infinito, / E eternizou o amor dos dois amantes / Nessas duas montanhas de granito."
Em 1968, Maria Stella de Novaes publicou um livro de 163 páginas intitulado Lendas Capixabas, pela FTD, em que contesta essa versão eternizada por Benjamin Silva, sob a alegação de que as freiras só chegaram ao Espírito Santo no início do século XX, e que "Uma lenda não pode incidir num anacronismo. Nem discrepar da História"(p. 56).
Rodrigo Campaneli, em 2004, publicou um livro com o título As mais belas lendas capixabas, editado em Vitória pela Casa de Artes Campaneli Ltda. A primeira lenda que ele reconta intitula-se O Frade e a Índia (p. 8-11), em que substitui a figura da freira pela de uma indiazinha, sob a mesma alegação de Maria Stella de Novaes de que a lenda não pode discrepar da História e de que não havia freiras aqui no séc. XVII.

Finalmente, com relação a discrepar dos acontecimentos reais, a Canção de Roland também falseia a História. A batalha em que Roland pereceu não era contra os mouros (que o poeta da canção chama, falsamente, de idólatras), mas contra montanheses bascos.
Assim, ao contrário do que pretenderam Maria Stella de Novaes e Rodrigo Campaneli, uma lenda pode apresentar tanto anacronismos quanto discrepâncias históricas. O fato de uma índia usar um manta, segundo a versão desses dois autores, parece-me mais discrepância histórica do que a que foi apontada na versão de Benjamin Silva.
Que importa na ficção a realidade histórica? A versão que deu nome às montanhas (o amor entre um frade e uma freira eternizado em granito pelo perdão divino) é muito mais poética e muito mais bonita. Por que destruí-la?
Autor: José Augusto Carvalho, jornalista, escritor, tradutor, mestre em Lingüística pela UNICAMP e doutor em Língua Portuguesa pela USP, é mineiro de Governador Valadares e capixaba por adoção
www.morrodomoreno.com.br
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