Contando-se
a história de logradouros antigos de Vila Velha, conta-se a história do
respectivo bairro, e assim por diante até chegar-se à história do Município a
partir de seus moradores.
Consultando
ensaio de Roberto Zata sobre “Vila Velha Meu Quintal – a rua do Sacramento”
temos a esclarecer:
Em
1894 o ENGº Antônio Francisco Athaíde fez uma planta cadastral das ruas da
Praínha onde mostra a rua do Sacramento.
Era
tortuosa, estreita com seis metros de largura, incluindo espaço para as calçadas
(que inexistiam) e de 130 metros de extensão.
Começava
transversal ao que é hoje a av. Beira Mar na Praínha, nos fundos da casa de
Bereco, e sua continuidade chamava-se rua Municipal e chegava na rua 23 de
maio.
Antônio
Athayde quando foi prefeito de Vila Velha já no segundo decênio do século XX
rasgou em linha reta a rua que tem seu nome e com desapropriações e demolições
deu novo traçado urbano na Praínha, diminuindo algumas tortuosidades e daí foi
extinta a rua do Sacramento. Quintais viraram frente de lotes e a rua do
Sacramento foi virando quintais. Do antigo trecho da rua “Municipal” sobrou o
que hoje é o Beco do Ataíde com algumas casas e perpendicular à rua Vasco
Coutinho.
Quando
lembra de sua rua do Sacramento, Zata chega a parafrasear o poeta ao
citar:
“Ai
que saudades que eu tenh
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais”
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais”
Zata
prossegue: “Falar da minha rua é lembrar da minha infância, dos bons momentos
vividos. É lembrar de uma Vila Velha que só existe na memória, já que hoje, o
crescimento interno de nossa querida cidade faz com que ela se transforme
dioturnamente, modificando as suas características físicas, fazendo surgir novas
ruas e desaparecer as antigas. Foi isso que aconteceu com a rua do Sacramento,
local onde eu nasci e vivi até ela desaparecer, transformando-se em toda a
extensão em quintais das casas que dela faziam parte”.
E
ainda prossegue: “Minha rua começava na saudosa Praínha, onde tantos e
deliciosos banhos eu tomei, e terminava na rua 23 de maio.
Entrando-se
nela pela Praínha, à esquerda, havia as casas de Dona Bibiana, do Manoel Luis,
do Senhor Anísio (minha casa) e do seu Dedé. À direita havia o quintal do
Capitão Camargo, que ia até a rua Pedro Palácios, mas no seu começo havia a
pensão da Dona Minalda, que tinha uma filha chamada Corina com quem eu
implicava, fazendo-a chorar só ao cantar essa musiquinha:
“Adeus
Corina!
Que vou embora,
Levo pena, deixo pena
Nas asas da siricória”.
Que vou embora,
Levo pena, deixo pena
Nas asas da siricória”.
Após
a rua Pedro Palácios vinham as casas de Dona Clara, mais outra de quem não me
recordo agora, e a casa de Dona Lindinha Batalha. Esta eu me lembro bem, pois
ela freqüentava a nossa casa e contava-nos uma estória chamada “A Tragédia de
Emília”, da qual destacamos os seguintes versos:
“Perdão
Emília
Se manchei teu nome,
Fui impuro, fui cruel, covarde.
Perdão, Emília se manchei teus lábios
Perdão, Emília para um desgraçado...”
Se manchei teu nome,
Fui impuro, fui cruel, covarde.
Perdão, Emília se manchei teus lábios
Perdão, Emília para um desgraçado...”
Antes
de terminar ao lado da casa do Sr. Silvino Valadares, a rua do Sacramento
“passava” pela casa de “seu” Ramos, do Chico Leão e outras mais.
Doces
lembranças vêm à minha memória quando penso na rua do Sacramento, pois lá nasci,
cresci e fiz meus mais chegados amigos: o Didico, a Ormi, a Orli, a Odete e a
Oceni. Pena que nunca mais eu os vi!”
Fonte:
Adaptação de Roberto Brochado Abreu. Membro da Casa da Memória de Vila
Velha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário