A
cana caiana era vendida de um modo muito engenhoso. Depois de descascada e
cortada, suas rodelas eram espetadas na própria casca da cana. Essa casca era
preparada em tiras largas e cuidadosamente aberta em várias lascas sem que a sua
base fosse atingida. Da base, que servia para segurar, se abriam cinco tiras com
as pontas afiadas onde se esperavam as rodelas descascadas da cana, formando com
essa disposição uma espécie de buquê. Ao invés de flores, as saborosas rodelas,
macias e doces que nem açúcar.
A
estudantada, na espera do bonde, vindo de bote ou de barca até Paul, era grande
consumidora desse produto, como também das laranjas Bahia, pêra e
seleta.
Foi
nessa época, na década de 40, que surgiu a máquina de descascar laranja. Com ela
os laranjeiros aumentaram consideravelmente a venda dessas frutas. Com essa
máquina descascavam laranjas com presteza e uniformidade, tirando fitas finas e
deixando-as sem nenhum ferimento nos seus gomos, produzindo um bagaço inteiriço
depois de chupadas. Com esse bagaço a meninada desocupada ou mesmo os ambulantes
que mantinham ali o seu ponto faziam embaixadas, controlando-o com um dos pés
descalços, disputando quem mais vezes nele batia sem deixar cair no chão, como
se fora uma bola.
Nesse
comércio ambulante uma guloseima muito festejada eram as cocadas vendidas em
tabuleiros. A nossa preferida tinha o sabor de laranja, um paladar de que até
hoje não encontramos iguais. O amendoim torrado, o bolo de aipim, o cuscuz, tudo
fazia do ponto de espera um meio para satisfazer o nosso apetite voraz de
criança, de adolescente mesmo, e estimular o gasto das nossas parcas economias
em tostões. Até os passes escolares, nesse mercado da comilança, viravam
moeda.
Fonte: Ecos de Vila Velha
Autor: José Anchieta de Setúbal
Autor: José Anchieta de Setúbal
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