Mulher
não viajava nos estribos do bonde. Se o veículo estivesse lotado e não houvesse
lugar para ela sentar, quase sempre alguém se levantava, comportamento muito
próprio da época. Caso isso não acontecesse, viajava em pé, entre os
bancos.
A
passagem do bonde custava, por pessoa, quatrocentos réis. A metade do percurso
até Aribiri, em ambos os sentidos, custava duzentos réis. No reboque,
considerada condução de segunda classe, pagava-se metade desses valores. Os
estudantes gozavam, nas passagens, de um desconto de cinqüenta por cento
controlados pela Companhia Central Brasileira de Força Elétrica com fornecimento
de carteiras de passes destinadas a durar exatamente o período escolar de um
mês. Para que esses passes fossem renovados, mensalmente o educandário dava o
visto nas carteiras prestes a expirar, comprovando que os seus portadores
realmente eram estudantes em atividade escolar.
Tripulantes
e passageiros, pelos encontros constantes no vai-vém das viagens, acabavam se
familiarizando uns com os outros. Da nossa parte gravamos os nomes e as imagens
de alguns desses profissionais. Como condutores: João de Jaburuna, Maurício,
Floriano – apelidado de Beija-Flor – e João
Cabeção. Como motorneiro lembramos Alarico, residente em Aribiri e conhecido
por ser um nordestino muito falante e também pelas suas meias-paradas dos
bondes, favorecendo o embarque e desembarque de passageiros fora do ponto. O seu
Hermínio, um fiscal sempre atencioso para com a clientela, retinha o veículo sob
a sua responsabilidade se alguém mais distante necessitasse pegá-lo.
Se
uns são lembrados pelos seus favores, outros marcaram ponto em sentido
contrário. Nesse rol incluímos a figura pouco simpática, pelo menos para nós
quando estudante, de um fiscal cujo nome não nos ocorre. Sabemos que tinha uma
das vistas vazada e por isso, pejorativamente, era conhecido como Galo Cego.
Entretanto, ninguém ousava chamá-lo pelo apelido, muito mais por respeito que
por medo.
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