No
início, trilhas entre ricos manguezais. Depois as passagens iam se alargando e
se defrontava com extenso areal branco, deixando para trás a umidade, o
“habitat” dos crustáceos e a vegetação característica dos mangues. A paisagem
mudava inesperadamente, e em meio àquela aridez, cajueiros, araçazeiros e
pitangueiras, vicejando em terra seca, até chegar à beira da praia e avistar o
imenso mar azul.
Outra
opção seria a estrada de barro, hoje Avenida Champagnat. Esta se iniciava após a
travessia de uma bela ponte sobre o Rio da Costa, cujas águas corriam próximas
às terras dos Maristas, antigo Sítio do Batalha. A fim de corrigir alagamentos,
que aconteciam na cidade, em ocasião de enchentes, o rio foi desviado do seu
curso normal perdendo seu aspecto natural, sua beleza e, até mesmo, a sua
identidade. Agora, a ponte, o rio, só na lembrança, em fotos ou na
história.
Todas
essas caminhadas, em trilhas ou estrada eram feitas em grupo, formado de
adultos, crianças e, quase sempre, de um cãozinho amigo que acompanhava o seu
dono.
Pés
descalços, muita alegria no coração e em bando, qual pássaros migratórios, em
busca do oásis, o mar.
No
caminho, o encontro com a boiada causava grande rebuliço. Poucos eram
acostumados com essas cenas rurais.
Ventania
repentina, chuva de areia, chapéus voando, correrias, pisadas de mau jeito, tudo
superado com brincadeiras e muitos risos.
Chegando
à praia o entusiasmo e o ânimo aumentavam, à medida que se dava continuidade aos
inúmeros folguedos.
Nos
banhos de mar, usava-se bóias de cortiça, atadas à cintura, para maior
segurança. Câmaras de ar de carro, preta ou vermelha, para mil e uma estripulias
na água.
O
bronzeamento da pele, acontecia normalmente, sem muitos cuidados de acordo com a
ação da melanina de cada um. Sem bronzeadores ou filtros solares.
Na
falta de vendedores ambulantes, levava-se frutas, dos próprios quintais ou
colhidas ao longo do caminho. Também deliciosos pãezinhos, com manteiga,
torrados ao sol, bem apreciados pela garotada.
A
praia, na época, era cheia de conchas, de vários formatos. Ariscos e velozes
tatuís, berbigões triangulares, em lindos tons rajados, apareciam no vaivém das
ondas, denunciando o seu esconderijo, fazendo furinhos na areia molhada,
facilitando, deste modo, a captura pelos pescadores mirins.
Ao
longe, no mar, via-se enormes botos cinzas, dando pulos ritmados. Um espetáculo
impressionante para os banhistas.
À
beira da praia, a vegetação rasteira, poucas casas de moradores fixos ou de
veranistas; muitos terrenos particulares cercados e transporte coletivo, bons
momentos e o tempo passava, sem se dar conta. Já era a hora do retorno, após
tantas travessuras.
Uma
longa estrada pela frente. Parecia interminável... Bastavam os primeiros passos
para se sentir novamente a mesma coragem, o mesmo ânimo e a mesma
alegria.
E
no final da jornada, quase chegando em Vila Velha (centro), ainda se podia
apreciar meninos afoitos e levados, saltando da ponte sobre o Rio da Costa.
Mergulhando ou nadando a fim de tirar o sal do mar, na água doce daquele
rio.
Em
casa, depois de saborear um delicioso almoço, só restavam a tarde, a noite, o
amanhecer de um novo dia e repetir a mesma dose até que as férias e o verão
terminassem.
Autora: Eny Botelho Baptista
www.morrodomoreno.com.br
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