- Diversas crianças brincavam, no quintal do Sr.
João Carvalho de Abreu, então dono do melhor açougue da cidade. Esse senhor era
bisavô de u’a menina de cinco anos, apelidada de Dondon, que se tornou conhecida
por todos pela maneira corajosa com que salvou um menino de três anos, quando
este ia se afogando no Cais de São Francisco. Martinho, filho do Sr. Libânio
Lírio, rolou do barco em que se encontrava e caiu na água, submergindo. Dondon
correu a socorrê-lo e, embora pequenina, conseguiu segurar o braço do
companheiro de infância, trazendo o corpo à tona, assim se conservando até lhe
chegasse o suspirado socorro. Tomam no colo o quase afogado, enquanto Dondon
cai, desfalecida.
Sabe-se que Dom Pedro II, ao tomar conhecimento
da bela ação de Dondon, concedeu-lhe mesada de 30$000 para sua educação (Decreto
de 18 de dezembro de 1886), ato logo comunicado ao presidente da província, Dr.
Antônio Leite Ribeiro de Almeida, em ofício de 27 do mesmo mês, sendo a pensão
recusada pelos pais.
Em passado mais remoto, os franciscanos, que ali
tinham seu cais e trapiche, receberam, a 18 de fevereiro de 1609, em procissão,
os despojos de frei Pedro Palácios, aquele que edificara, em Vila Velha, a
Ermida das Palmeiras, transformada, transformada, com o decorrer dos anos, no
Convento da Penha. Esses despojos foram levados para o Convento de São
Francisco, juntamente com um cajado do frade, ali permanecendo até o início da
década de 20, quando o padre Leandro Del Uomo, italiano, homem caridoso mas de
nenhum conhecimento da história, das tradições do Espírito Santo, resolveu,
indevidamente, pior que sem protestos do governo e da população, demolir o velho
Convento, para construção aí do Orfanato Cristo Rei, perdendo-se, então,para
sempre, as preciosas relíquias. Registre-se que, quando da vinda dos restos
mortais de frei Pedro Palácios para Vitória, o povo vilavelhense protestou com
veemência, desejando, em vão, que os mesmos ficassem no Convento da Penha, o
que, afinal, teria sido o mais acertado.
Quando eu já rapazola, a rua Cais de São
Francisco não contava ainda com o Centro de Saúde, sendo que, na espaçosa área
em que o mesmo foi construído, havia antes algumas casas antigas, residindo numa
delas o italiano Paschoal Del maestro, hoje nome de rua em Vitória, no bairro de
Camburi. Outra parte dessa área servia, periodicamente, para armação de circos
mambembes, ou para instalação de precários parques de diversão. O outro Aldo da
rua, como ainda agora, contava com um hotel, uma lavanderia dirigida por cidadão
chinês (todas as lavanderias da cidade eram de propriedade de chineses), ale de
alguns poucos prédios residenciais.
Roberto Almada, poeta mineiro radicado em
Vitória, escreveu este sugestivo poema sobre a rua Cais de São Francisco:
No cais de São Francisco não tem mar.
Tem só uma ruazinha de onde se avista o
casario,
O convento velho, o Morro da Fonte
Grande,
E lá em cima a torre branca da igreja de Santa
Luzia,
Tão cansadinha, com aquelas paredes de tantos
anos,
Pra mais de quatrocentos abençoando os fiéis
seus
Vizinhos.
Um dia vão chamar o cais de outro nome
qualquer,
Porque é preciso homenagear todo mundo.
Mas tomara que não nasça ninguém ilustre
nunca
Mais.
E o cais continue sendo de São Francisco
Que ele também merece.
Fonte: Logradouros Antigos de Vitória,
1999Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2012
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2012
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