Na época em que Tovar fundou a Povoação de
Linhares, vinha também com a missão de povoar a região, a pedido de D. Rodrigo,
que não desanimava de transformar o “Nilo Brasiliense” em um instrumento do
progresso. Se não tomou as providências, que ele mesmo sugerira, necessárias à
navegação, pelo menos as fez no sentido de povoar as proximidades da foz do
rio.
Para isto, convidou para lá os lavradores que
quisessem se estabelecer.
João Filipe Du Pin Almeida Calmon foi o único que
atendeu ao convite. Este colono empreendedor vendeu as terras que possuía entre
Itapemirim e Benevente – hoje Anchieta -, e veio para Linhares com a família em
“novembro de 1809”. As peripécias de sua viagem, narradas por Saint-Hilaire,
teriam sido de desanimar alguém menos determinado.
Estando o rio Doce no período das cheias, “foi
preciso trazer através de Campos do Riacho e por florestas impenetráveis todas
as provisões necessárias. João Filipe foi atacado de febres, e outros de sua
família também, mas nada o desencorajou”.
Escolheu, para se fixar, as terras que ficavam
diante do Povoado de Linhares, do outro lado do rio – onde hoje é a Estação
Experimental da Emcapa -, dando-lhe o nome de “fazenda Bom Jardim”.
Instalando-se , iniciou os trabalhos que não devem ter sido fáceis: desmatamento
da floresta densa e construção de abrigos para a família e escravos.
Trabalhando arduamente, em menos de 10 anos já
produzia farinha e açúcar; experimentou a cultura do linho e do trigo e, mais
tarde, construiu barcos para transportar, barra a fora, os produtos de sua
sesmaria. Montou também uma olaria para telhas e tijolos.
Os experimentos com linho e trigo foram
realizados na época de Francisco Alberto Rubim que, com a saída de Tovar em
1811, assumiu no ano seguinte o Governo da Capitania.
Rubim, homem empreendedor, preocupou-se entre
outras coisas com o povoamento de Linhares, inteiramente ao abandono, marcado
apenas pela presença de João Filipe; a navegação reduzia-se a canoas que subiam
e desciam o rio, conduzindo soldados, armas e munições. Na povoação de Linhares,
nem farinha de mandioca se produziam devido a ordens anteriores de Silva Pontes
e Tovar, no sentido de que a população não o fizesse para não chamar a atenção
dos botocudos e evitar seus ataques. Coisa, aliás, que, evidentemente, de nada
deve ter adiantado, levando apenas todos da região a uma grande inércia.
Tratou Rubim de mudar estas disposições,
determinando não só que plantassem a mandioca, mas que esta atividade fosse
desenvolvida também pelos soldados que estivessem de folga. Ainda em benefício
de Linhares enviou à povoação, em 1813, 34 camponeses espanhóis”, vindos de uma
das ilhas Canárias e que haviam chegado junto a outros, em Vitória, na
embarcação Santo gostinho Palafox. Remeteu-os a João Filipe Calmon, habitante
“mais poderoso do lugar”, para que os acolhesse e distribuísse entre as demais
colônias da região; mas ele os recebeu e deu trabalho a todos em sua própria
fazenda. Data dessa época o envio das sementes de linho e trigo a que já nos
referimos. Mandou, ainda Rubim, vir outras pessoas de Minas, perfazendo um total
de 62 novos habitantes de ambos os sexos.
Preocupou-se também pelo fato de ali não haver
“igreja e nem um pároco que lhe administrasse os sacramentos”, o que considerava
grande vexame. Por isso, o zeloso Governador elevou o povoado a Paróquia em 1810
e, em 1813, por indicação de um bispo que esteve em Linhares, foi mandado o
Padre Pedro do Rosário Ferreira, que logo faleceu. Em setembro de 1817, Rubim
veio a Linhares pessoalmente lançar a pedra fundamental para a construção da
Igreja Matriz.
No ano seguinte, 1818, PE levantada, por sua
ordem, “uma vista e perspectiva da então Povoação de Linhares, em a qual foram
demonstrados os edifícios, terrenos adjacentes, estradas e o majestoso rio
Doce”; e a 19 de agosto de 1819, remeteu ao Príncipe Regente D. João, no Rio de
Janeiro, “a planta topográfica da povoação de Linhares, assim como a estatística
de sua população e o mapa do Corpo de Pedestres ali existente para defesa de
seus moradores; acompanhando ainda a relação das diversas obras ali feitas, como
fosse as de estradas e Matriz.”
Além disto, “o Governo, em janeiro de 1814, é
autorizado a conceder sesmarias”; só nas margens da lagoa Juparanã foram
concedidas 82, mas alguns anos depois não estavam confirmadas, isto é, nem
medidas, nem cultivadas.
Mas não apenas nas margens da Juparanã foram
concedidas sesmarias. Documento que anexamos comprova que uma sesmaria foi
concedida por Francisco Alberto Rubim, próxima ao povoado de Linhares, em 1818.
No verso da ilustração do documento fornecemos informações sobre o mesmo.
Acreditamos que muitas das sesmarias doadas nessa
época acabaram passando, como essa, a terceiros.
Fonte: Panorama Histórico de Linhares,
1982
Autora: Maria Lúcia Grossi Zunti
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2012
Autora: Maria Lúcia Grossi Zunti
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário