
Mapas, painéis, tabelas, utensílios domésticos, textos, objetos e uma
infinidade de histórias baseadas em tese da imigração dos pomeranos para a
colônia de Santa Maria de Jetibá, em data estimada em 1857, formam o acervo do
Museu da Imigração Pomerana, que será inaugurado hoje, às 16:00 horas, no
município de Santa Maria de Jetibá, emancipado há apenas três anos. O mais novo
museu do Estado chega com uma proposta diferente. O museólogo e professor da
Ufes, Sebastião Pimentel Franco, garante que o objetivo não é apenas resgatar a
memória desse povo. A união entre o passado e presente é exigência máxima de
modernidade na constituição de um museu de arte.
O Museu da Imigração Pomerana será inaugurado
justamente durante a 11ª Festa do Colono em Santa Maria de Jetibá. O prefeito
Helmar Potratz conseguiu uma casa cedida em comodato e que pertence à
Cooperativa Avícola. A casa não é uma réplica da pomerana porque houve
descaracterização. Mas com a contratação de um projeto arquitetônico e
museológico, a adaptação ficou de qualidade. “Estamos finalmente conseguindo
inaugurar um museu que vai refletir a história da imigração pomerana “, conta o
prefeito, argumentando que a disposição de deixar a marca da imigração pomerana
auxiliou na conclusão do museu.
Participações
A Prefeitura de Santa Maria de Jetibá contou com
a participação em recursos do Governo do Estado e consulado-geral da Alemanha,
no Rio de Janeiro, para montar o museu. A história do Museu da Imigração
Pomerana começou nos bancos da universidade. A professora de História da Ufes
Regina Hees defendeu uma tese de mestrado sobre a imigração pomerana. Ela e o
museólogo Sebastião Pimentel Franco passaram quase dois anos reunindo objetos,
textos e buscando, de porta em porta, elementos sobre os pomeranos. A seleção
das peças do museu nasceu daí, após uma pesquisa histórica registrada por Regina
em sua tese. Mas na prática foi preciso definir temas na elaboração do projeto
do museu.
Sete temas foram trabalhados. “A gente procurou
fazer uma exposição cronológica”, explica Sebastião Pimentel Franco. O primeiro
tema enfoca a vinda dos imigrantes. Essa fase inclui os problemas
sócio-econômicos e políticos. Regina Hees acrescenta que eles viviam numa
estrutura feudal, como se fossem servos em sua própria terra, no continente
europeu. O segundo tema aborda o estabelecimento dos pomeranos no Brasil e a
ocupação da terra. Fala da viagem e da chegada. O terceiro lembra a higiene e a
medicina. O quarto descreve a economia. O quinto aborda a evolução
administrativa na região. O sexto enfoca a educação e o sétimo fala dos aspestos
mculturais e de lazer. O último aborda a religião.
Cronologia
Com este aspecto cronológico, explica Sebastião
Pimentel Franco, foi traçado o perfil do que seria o museu. Ele identifica o
processo como de linguagem moderna. “A idéia é levar até a comunidade não só a
história dos seus antepassados mas também a proposta de um novo espaço para a
cultura.
“No museu serão feitas exposições que alertarão
sobre assuntos problemáticos da comunidade”. Regina Hees lembra de temas como
alcoolismo e agrotóxicos. Eles funcionarão como mostras educativas.
A proposta de fazer um museu dinâmico – existe um
convênio com a universidade que facilitou a montagem – é para criar na
comunidade uma certa disposição quanto à visitação. Sebastião Pimentel Franco
admite que o brasileiro não gosta e não tem costume de visitar museus. Por este
motivo, além das exposições comuns, haverá eventos ligados diretamente ao dia-a
dia dos pomeranos. Os dois lembram a obstinação do prefeito Helmar Potratz, que
auxiliou muito na conclusão do projeto. Além disso, duas estagiárias foram
treinadas no Museu Solar Monjardim, em Vitória, e vão cuidar da administração do
museu dos pomeranos.
Promessa
Sebastião e Regina contam que não foram poucas as
dificuldades encontradas para montar o museu. Como a casa da Cooperativa Avícola
não é uma construção própria para museu, eles tiveram que criar uma solução para
interferir na atual realidade. Falar do passado com modernidade foi uma das
preocupações. Pensando assim, grandes painéis funcionam como contadores de
história. A arte foi feita em silk-screen. “Nós procuramos falar do passado até
o presente, numa abordagem que não ultrapassou a realidade”, confessa o
museólogo. Ele ainda garante que a montagem de um museu requer evolução, mesmo
quando se trata de coisas antigas.
Ainda nas imediações do museu, até o final do
ano, existe uma promessa da Prefeitura de construção da Casa do Colono Pomerano.
Regina Hees diz que a casa já foi até comprada pela Prefeitura. Ela lamenta que
algumas construções estejam completamente descaracterizadas e certas casas sejam
vendidas inteiras e depois desmontadas. Elas possuem madeiras antigas e de boa
qualidade, interesse de muitos decoradores. Sem falar no mobiliário antigo, que
enche os olhos dos colecionadores. Longe dos tempos de colônia, hoje o município
de Santa Maria de Jetibá tem uma nova história. A ascensão do comércio com o
mercado de produtos hortigranjeiros faz da região um município em franca
prosperidade.
Projeto arquitetônico
Montar um museu não é tão fácil quanto parece. A Prefeitura necessitou,
ainda, de um projeto arquitetônico. O arquiteto José Daher conta que a casa, tão
danificada, teve que ser restaurada, mas sem perder a sua característica
original. Ela fica localizada num plano mais alto da cidade. A construção antiga
tinha cinco cômodos que incluíam duas salas, transformadas numa só. A carência
de espaços para reunir a comunidade resultou num projeto que associaria o museu,
além do acervo, a um local dedicado à cultura, aberto para diversos fins,
garante o arquiteto. A restauração da obra começou no ano passado.
As fachadas foram restauradas no padrão original. Como a casa pomerana não
tinha iluminação foi necessário um projeto atualizado. A utilização do novo e do
antigo é comum nesse tipo de arquitetura. José Daher argumenta que o interior
solidifica instações antigas que são associadas a objetos contemporâneos. Um
exemplo é a iluminação feita com spots. Ela age como elemento de apoio. Um
trilho eletrificado abriga os spots, que direcionam os focos sobre as peças que
estão sendo expostas. O contraste entre o velho e o novo tem a proposta de
valorização do interior. Antes de iniciar o projeto, José Daher Filho fez um
levantamento e acompanhou a obra de restauração da antiga casa. Ele é dono da
empresa Vão Livre Arquitetura e Urbanismo, que assina o projeto
arquitetônico.
Fonte: Jornal A GAZETA de 18/12/1990 -
Jornalista, Izabel AarãoCompilação: Walter de Aguiar Filho,
setembro/2011
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