Um dos traços mais marcantes do Espírito Santo, como sabemos, é a sua
formação múltipla, multifacetada, em função das inúmeras etnias que se encontram
na base de sua história e de sua configuração como Estado.
Nesse momento, assumir a diversidade, portanto, é assumir a sua própria
condição de existência, a sua história e as suas heranças, a sua maneira de ser,
de pensar e de agir e, obviamente, as suas contradições que são, no fundo, a
mola propulsora que impulsiona o indivíduo e as comunidades a transformarem e a
recriarem os seus valores e o seu universo simbólico, a partir de linguagens e
manifestações culturais das mais diversas origens e matizes.
Nestas últimas décadas, acompanhamos em todo o mundo, uma série de seminários
e debates acerca da diversidade cultural e de seus desdobramentos políticos e
sociais, que pressupõem o respeito pelo outro e pelo diferente e a inserção de
economias emergentes no cenário mundial, nas quais o produto cultural ganhou um
amplo significado nas trocas globalizadas de mercadorias de alto valor
agregado.
Nosso país, povoado por civilizações indígenas e colonizado por europeus e
afrodescendentes, tornou-se um espaço multiétnico, receptivo a vários processos
imigratórios e, por conseguinte, palco de hibridações e miscigenações de toda
ordem. A abrangência desse conceito transforma-o também num potente instrumento
político de emancipação, não só das mazelas do colonialismo, como também das
desigualdades estruturais internas aprofundadas com a globalização.
A miscigenação, aliás, foi vista muitas vezes ora como a degradação da raça,
ora como o maior exemplo da democracia racial; e os povos nativos ora foram
considerados selvagens em seu estado natural, ora seres especiais dotados de uma
enorme quantidade de futuro, por parte dos chamados países civilizados. Esse
processo histórico foi o fundamento da criação da nossa identidade nacional.
Hoje a “geleia geral” é o nosso traço distintivo, o nosso orgulho, o nosso
valor cultural maior. Por isso, é tão necessário considerá-la como referência
fundamental nas políticas públicas da cultura. A consciência da diversidade
cultural pressupõe, portanto, o respeito mútuo e a convivência pacífica, base
para a construção de um mundo mais justo e mais igualitário, de uma nova ética e
de novos paradigmas que devem fundamentar a relação entre as várias
comunidades.
Inseri-la na agenda político-econômica que vise o desenvolvimento humano não
é um processo fácil, pois altera estruturas de vulnerabilidade e de poder ao
propor uma revalorização das identidades culturais e opondo-se aos padrões
homogeneizados de consumo cultural.
Num mundo globalizado, no qual prevalece o poder econômico em todas as suas
ramificações, é imprescindível e necessário criar mecanismos de defesa da
diversidade humana e cultural, fonte da beleza e criatividade, e do prazer de se
viver em sociedade.
Não se trata de conservá-la tal como foi ou é, mas de garantir que continue
existindo e se transformando, pois ela se fundamenta na inovação, na
criatividade e na assimilação contínua de inúmeras influências. Não é apenas
herança do passado, mas matéria-prima para um projeto do presente e do futuro
que contemple o conjunto da sociedade.
Fonte: http://www.es.gov.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário